Nova Ordem (2020)
Título original: Nuevo Orden
Origem: México / França
Direção e roteiro : Michel Franco
Elenco: Mónica del Carmen, Diego Boneta, Naian González Norvind, Dario Yazbek Bernal, Fernando Cualtle, Patricia Bernal, Roberto Medina
Em uma Cidade do México distópica, mas com bastante cara de atualidade, há um movimento de revolta dos menos favorecidos, de pele escura, que atacam violentamente os ricos brancos da capital mexicana, numa coreografia que lembra muito a dos filmes de zumbis.
Tudo começa no casamento de uma família de classe alta que, com seus carrões blindados, motoristas, governantas, champanhe, drogas e dinheiro de propinas, vê, de uma hora para outra, sua casa invadida, roubada e seus convidados agredidos.
Nova Ordem nos apresenta literalmente uma luta de classes, em que a violência extrema incomoda, perturba, nos tira do eixo. Paroxismo é a palavra que melhor cabe para descrever essa história! Um exagero que flerta com a superficialidade, mas que não deixa de apontar um sistema social falho, típico de nossos países latino-americanos, em que muitos poucos detém muita riqueza, enquanto milhões não têm quase nada para viver. Um formato já mil vezes denunciado pelo cinema, pela literatura e pelo jornal nosso de cada dia, sistema comprovadamente falho, mas que continua se perpetuando mundo afora.
O filme, que tem uma bela fotografia, em que o verde dá o tom da revolta (mesma cor usada pelas mulheres em seus protesos pelo direito ao aborto), tem também excelente ritmo, prendendo a atenção do início ao fim. Um fim que, aliás, chega muito súbito e que não se resolve completamente, merecendo mais desenvolvimento. Falta alguma coisa! Ainda que a frase final nos deixe com algo para refletir e para apagar qualquer traço de esperança dos nossos corações: “Sólo los muertos han visto el final de la guerra”.
Nova Ordem, ganhador do Leão de Prata em Veneza (prêmio do júri) no ano passado, faz refletir sobre sociedades construídas em cima das feridas do colonialismo (racismo, violência, corrupção, etc.). Mesmo assim, foi acusado de racista e de classista aqui no México, quando do lançamento de seu trailer. Segundo alguns críticos, o filme de Franco emblematizava o olhar do “White Mexican” que teme uma guerra civil no país. Mas é preciso enxergar além do trailer… e das imagens estereotipadas. Nuevo Orden critica justamente o comportamento da elite mexicana, afeita a mordomias, regalias e tão acostumada às injustiças, além de criticar ainda a militarização do país e a polarização cada vez mais evidente, incentivada, de alguma maneira, pelo atual chefe de estado.
Além disso, apesar de serem os empregados de pele escura e traços indígenas os que aparentemente tomam a frente do comando da rebelião, o que vamos percebendo ao longo da história é que a nova ordem estabelecida não tem nada de nova! O poder, na verdade, só muda de mãos e os trabalhadores honestos continuam sendo as maiores vítimas dessa narrativa e desse sistema social pra lá de falido.
Um filme PRA PENSAR.