Belfast (2021)

Origem: UK

Direção: Kenneth Branagh

Roteiro: Kenneth Branagh

Elenco: Jude Hill, Judi Dench, Jamie Dornan, Caitriona Balfe, Ciarán Hinds, 

Assim como Alfonso Cuarón há alguns anos debruçou-se sobre sua vida em preto e branco realizando o belíssimo “Roma” (2018), neste ano é a vez do ator e diretor britânico Kenneth Branagh dar um mergulho no passado e resgatar parte da infância vivida na sua Irlanda do Norte natal.

Fazendo uso do mesmo preto e branco, desta vez com algumas incursões nas cores, sobretudo em situações de mise en abîme – filmes dentro do filme – o “Belfast” de Kenneth Branagh conta a história do pequeno Buddy (brilhantemente interpretado por Jude Hill), menino de 9 anos, morador de Belfast. Ele mora ali com seus pais e irmão mais velho, mas tem trânsito livre pela cidade, onde conhece todo mundo e é cuidado por todos. Um retrato perfeito do famoso “it takes a village to raise a child”. Muitos são primos, vizinhos ou amigos. Uma vida boa – alternando escola, brincadeira na rua, idas ao cinema, visitas aos avós e à igreja –, que vai mudar bruscamente em 1969, quando começam as barricadas e as brigas entre católicos e protestantes.

O filme se concentra justamente no período em que a família de Buddy, que é protestante mas convive perfeitamente bem com amigos católicos, se vê tentada a deixar sua cidade em busca de um lugar mais seguro para criar os filhos. Eles não querem, mas serão obrigados a mudar para Inglaterra, onde o pai consegue uma boa proposta de trabalho. Mas isso não acontece sem sofrimento. A partida de Belfast é também um momento de transição na vida de Buddy, é a passagem da infância para a vida real, cheia de perigos, ameaças, lutos e despedidas. É a perda da inocência, da paz que habita em muitos casos a mente de uma criança. Mas, uma passagem também difícil para os adultos, como a mãe, que tem dificuldades em “desapegar”. O roteiro, também assinado por Branagh, mostra com muita sensibilidade as dificuldades e implicações de se deixar a terra natal, suas raízes, seus amigos, seu sotaque, sua história. Caminho obrigatório de tantos exilados e refugiados, fugitivos de conflitos tenebrosos e cruéis, como, infelizmente continuamos a ver em nossa atualidade.

Em Belfast-filme tudo é lindo! A fotografia, a história, o amor que une a família do pequeno Buddy/Kenneth Branagh. Impossível não se apaixonar por aquela carinha sapeca cheia de sardas!!!! Dá vontade de levar pra casa, de abraçar, de dar colo!!! A relação do menino com os avós é daquelas de encher o coração da gente de ternura. Ai, ai, meu coração!

Kenneth Branagh foi extremamente cuidadoso em cada detalhe que compõe esse filme tão delicado, intimista e poético. As tomadas se alternam entre plongée e contra-plongée com maestria, numa alusão perfeita ao olhar divino (plongée), à pequenez humana e, claro, ao ponto de vista da criança (contra-plongée), protagonista desta história. Uma Belfast em guerra, vista pelos olhos de uma criança apaixonada por futebol, filmes e por uma menininha inteligente chamada Katherine. Esse menino é Kenneth Branagh.

Pra completar o espetáculo, a trilha é igualmente linda, com músicas de Van Morrison, também natural de Belfast, e que compôs uma música especialmente para o filme. O elenco é fantástico, com participação especial de Judi Dench como a avó de Buddy. A montagem é excelente, o ritmo, a duração… Ou seja, tudo neste filme é lindo e de excelente qualidade! Sem sombra de dúvidas, uma obra de (sétima) arte completa.

PRA SE ENCANTAR. Em cartaz, nos cinemas.

~ by Lilia Lustosa on março 15, 2022.

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