Amor, Sublime Amor (2021)
Título original: West Side Story
Origem: EUA
Direção: Steven Spielberg
Roteiro: Tony Kushner
Elenco: Ariane DeBose, Rita Moreno, Ansel Elgort, Rachel Zegler, David Alvarez
Sempre me espantou a capacidade que tem Steven Spielberg de transitar entre os gêneros cinematográficos. Desde seu longa de estreia “Tubarão” (1975) até o seu mais recente “Amor, Sublime Amor”, o diretor americano soube sempre se adaptar às exigências do público de cada tipo de filme que realizou. Muitos acabaram se tornando grandes clássicos, como o inesquecível “ET” (1982), “A Cor Púrpura” (1985), “A Lista de Schindler” (1993) e tantos outros.
Desta vez o desafio que ele se impôs foi o gênero musical. Desafio dobrado já que Spielberg decidiu partir para a realização do remake de um filme já consagrado e já convertido em clássico do cinema americano: “West Side Story”, lançado originalmente em 1961, dirigido pelo grande Robert Wise. É preciso ter muita confiança em seu talento!!! Mas ele tem. E não é à toa.
Sua versão de “Amor, Sublime Amor” é excelente e não deixa nada a desejar à original. Filmada com uma câmera bailarina, em um cenário artificial típico dos musicais da broadway, a fotografia é super bem cuidada trabalhando as cores à perfeição. As quentes para os portorriquenhos e as frias para os gringos. Tudo feito de maneira sutil e linda. As coreografias também são primorosas, pelo menos para meus olhos de leiga. A música, acho que não precisa comentar. Já é um clássico. E Spielberg teve a humildade e o talento para não modificá-las. Não criou música nova só para ganhar prêmios. Seguiu com o original. O elenco escolhido por Spielberg, por sua vez, apesar de não ser o das grandes estrelas já consagradas em Hollywood, dá conta do recado direitinho. Vozes e rostos novos que iluminam a tela e trazem um frescor para uma história já mil vezes contada. O destaque fica por conta de Ariane DeBose, que interpreta Anita, namorada de Bernardo (David Alvarez), irmão da protagonista, indicada inclusive ao Oscar de melhor coadjuvante por esse trabalho. Aqui vale abrir parênteses: (na versão de 1961, Anita é interpretada por Rita Moreno, que aparece na versão atual como a personagem Valentina, uma contribuição de Spielberg ao roteiro original, colocando-a ali como a voz do bom senso, aquela que transita entre os dois mundos, entre as duas gangues. Nos anos 60, no papel de Anita, Rita levou o Oscar de melhor atriz coadjuvante . Seria isso um sinal?)
Para os que não viram o original, a trama se passa em Nova Iorque dos anos 50, no acalorado período pós-guerra em que o território era ali era disputado por duas gangs: de um lado os Jets, americanos descendentes de irlandeses; do outro, os Sharks, comunidade dos portorriquenhos, incorporados aos EUA no final do século 19 e tornados cidadãos americanos em 1917. O bairro vive em eterna discórdia por causa da segregação por eles mesmos imposta. Portorriquenhos só interagem com portorriquenhos e os “gringos” só com “gringos”. Acontece que María (Rachel Zegler) e Tony (Ansel Elgort) vão descumprir esse “combinado” e apaixonar-se perdidamente um pelo outro. Está armada a confusão entre as duas gangues que não vão sossegar enquanto não conseguirem separar os pombinhos.
Essa tragédia shakespeareana ganha pelas mãos e olhos de Spielberg, um frescor de século 21 com coreaografias atualizadas e a introdução de temas super debatidos hoje, como a tal da diversidade. Além de ter incluido um personagem trans, ele ainda ousou mesclar os diálogos em inglês e espanhol, sem recorrer às legendas. Tudo super bem adaptado ao nosso mundo de hoje tão miscigenado, tão “aldeia global”, mas ainda tão cheio de ódio do coração.
O cara é um gênio. Não à toa, sua versão de “Amor, Sublime Amor” concorre ao Oscar deste ano em nada, mais nada menos do que 7 categorias, incluindo melhor filme e melhor diretor. Mais uma vez, tenho que tirar o chapéu para o grande mestre Steven Spielberg! Já esperando o que está por vir…
PRA SE DISTRAIR. Disponível na Disney+