Mães Paralelas (2021)
Título original: Madres Paralelas
Origem: Espanha
Direção: Pedro Almodóvar
Roteiro: Pedro Almodóvar
Elenco: Penélope Cruz, Milena Smit, Israel Elejalde, Rossy de Palma, Aitana Sáchez-Gijón
Hoje a dica é quente! Afinal, estamos falando aqui de Pedro Almodóvar e da estreia de seu novo filme no catálogo da Netflix! Mães Paralelas, filme estrelado por uma de suas atrizes-musas, Penélope Cruz, e que concorre ao Oscar em duas categorias: Melhor atriz e Melhor Trilha Musical. Ambas indicações super merecidas!
Mas vamos lá! Em Mães Paralelas, Almodóvar retoma sua tradicional paleta de cores fortes e vibrantes, desta feita com o predomínio do vermelho e do verde, cores que vão se revezando no cenário e no vestuário, e que só perdem um pouco força na parte final da trama, cedendo espaço a tons mais terrenos, cores dos pueblos espanhois, de sua terra e de sua gente.
O filme conta a história de Janis (Penélope Cruz), uma fotógrafa solteira que engravida do amante Arturo (Israel Elejalde), que, por ser casado, não quer ter o filho naquele momento. A mulher, porém, já beirando os 40, decide que terá a criança assim mesmo e repetirá a tradição da família, a de mães solteiras. E aí Almodóvar aproveita para dar um cunho político ao seu filme. Isso porque Janis vem de um pueblo em que vários habitantes homens foram assassinados durante a Guerra Civil Espanhola e seguem até então desaparecidos. As mulheres tiveram assim que construir suas vidas e criar seus filhos sozinhas, não necessariamente por uma escolha, mas, principalmente, pela falta dela.
Janis leva a gravidez adiante e na maternidade vai conhecer a adolescente Ana (Milena Smit), sua companheira de quarto, que dará à luz sua filha no mesmo dia que Janis. Duas mães solteiras, em condições, no entanto, bem distintas. Unidas apenas pela estreia simultânea no universo da maternidade. As duas sentem que têm alguma afinidade, trocam telefones e acabam se tornando amigas por uma série de circunstâncias que não quero aqui contar para não dar spoilers.
Mas o que quero mesmo dizer é que, apesar de ter uma premissa bastante interessante, Almodóvar parece que perdeu a mão desta vez. Seu filme tinha tudo para ser excelente, mas não é! Há mais de um filme dentro do filme. E muitos temas acabam não sendo desenvolvidos como deveriam, deixando uma série de pedaços alinhavados, de histórias inacabadas e o espectador com vontade de quero-mais… Ao tentar misturar um tema social importante como o dos desaparecidos da guerra espanhola com o tema central e marcante da maternidade (desejada ou indesejada), o diretor espanhol acabou se desencontrando. O filme me pareceu mais uma justaposição de roteiros do que um roteiro inteiro. A última parte então, “ni hablar!”, parece um “puxadinho”, colocado ali só para arrematar o tema lançado no início do filme e que precisava de uma amarração para terminar. Uma pena, porque a parte que envolve as duas mães de mundos tão paralelos, com backgrouds tão distintos e, ao mesmo tempo, tão cheio de interseções, já daria pano pra manga para um filmaço. Mas por passar pela tangente, não entremelando as duas tramas (a histórica e a da crônica da maternidade) como poderia ter feito, Almodóvar acabou por nos entregar um melodrama digno de Manoel Carlos, envolto em uma rala camada de História.
Ainda assim, super recomendo Mães Paralelas, cujos pontos fortes são a atuação de Penélope Cruz, que parece só melhorar com o tempo, e a excelente e perturbadora trilha assinada por Alberto Iglesias.
Fico por aqui aguardando os comentários e, claro, os ataques.
Meu marido, por exemplo, adorou o filme e me apresentou vários argumentos para defender o longa de Almodóvar, alegando que eu estava equivocada em minha avaliação… “a ver”!
Um filme PRA PENSAR. Disponível na Netflix.