O Beco do Pesadelo (2021)
Origem: EUA / México
Diretor: Guillermo del Toro
Roteiro: Guillermo del Toro e Kim Morgan
Elenco: Bradley Cooper, Willem Dafoe, Cate Blanchett, Toni Collette, Rooney Mara, Richard Jenkins, David Stratahairn
Ontem fui assistir ao mais novo filme do mexicano Guillermo Del Toro, autor dos famosos “Labirinto do Fauno” (2006) e “A Forma da Agua” (2017), entre outras pérolas. Afeito aos filmes fantásticos, com universos povoados de monstros, desta feita, Del Toro preferiu se concentrar no bicho-homem, talvez o mais monstro dos monstros! Aliás, esse é o grande mote de “O Beco do Pesadelo”, cujo título em espanhol – “El Callejón de las almas perdidas” – me pareceu bem mais interessante e apropriado. Mas, vamos lá:
Com uma câmara baixa, colocada quase no chão, vemos em contra-luz, em uma imagem banhada de sombras em tom de sépia, um homem com jeitão de Indiana Jones. Sem sabermos o porquê, ele atiça fogo a uma casa no meio do nada e sai. Parte sem rumo e, aparentemente, sem remorços, pega um ônibus qualquer e acaba parando em frente a um vilarejo no meio de outro nada. Lá, há uma feira daquelas muito comuns no passado (os famosos Carnivals nos EUA), em que além de carrossel, roda-gigante, trem-fantasma e outras atrações típicas de parques de diversões, havia também “aberrações na natureza”, ou “bichos exóticos”, como a mulher barbada, o homem mais forte do mundo, homem-serpente, mentalistas, etc. No caso específico desta feira, uma das grandes atrações é um “selvagem”. Homem-monstro, híbrido de humano e animal, capaz de matar uma galinha com os próprios dentes, para assim saciar sua fome e seus instintos de fera. Uma atração proibida, mas que atraía multidões sedentas por verem de perto a barbárie ali apresentada.
Tendo essa tela como cenário, além do importante contexto da II guerra mundial, “O Beco do Pesadelo” é um verdadeiro show de horrores, um espécie de thriller noir, que revela o que há de mais podre na alma humana.
Na trama, que é baseada no livro “O Beco das Ilusões Perdidas” (1946), escrito por William Lindsay Gresham, seguimos o caminho de Stan Carlisle (Bradley Cooper), de quem pouco sabemos (o tal Indiana Jones do começo), em sua saga para sobreviver. Um homem solitário e misterioso que, sem muitas alternativas de futuro, acaba ficando por ali mesmo, indo trabalhar por pouco mais ou nada para Clem, um fantástico Willem Dafoe, diga-se de passagem. Aos poucos, vamos juntando as peças do quebra-cabeça e desvendando quem é de fato Stan.
Com um elenco estelar (Cate Blanchett, Toni Collette, Rooney Mara, etc.) e uma produção impecável, o filme, que dura duas horas e meia, equilibra decadência e elegância com primor. O ritmo é um pouco lento, sobretudo na primeira parte. Sim, podemos dizer que o filme tem duas partes, que colocam justamente em evidência o contraste entre esses dois mundos, o da pobreza e o da riqueza, o da ruína e o do luxo, mas sempre permeados do que há de mais baixo na natureza humana. Isso não muda, não importa a classe social! A segunda parte ganha mais ritmo, mais dinamismo e mais tensão, deixando-nos agoniados, angustiados, com medo do que vem pela frente.
Não quero contar muito mais, porque acho que esse é o tipo do filme que merece ser visto sem muita informação. Uma história em que a mente humana é o centro de tudo, tendo a psicanálise, o tarot e o mentalismo como ferramentas para se adentrar seus labirintos, na tentativa de sanar feridas do passado, cicatrizar culpas, prever o futuro ou simplesmente ganhar dinheiro.
“O Beco do Pesadelo” é um filme extremamente bem feito, cuidadoso em cada detalhe, cheio de imagens belas e grotescas, além de diálogos impactantes que estimulam uma série de reflexões sobre a natureza humana. Uma verdadeira mise-en-scène da famosa frase de Hobbes, “o homem é o lobo do homem”.
PRA PENSAR