Tropicália (2012)
Veja aqui a entrevista que me levou ao filme!
Origem: Brasil
Diretor: Marcelo Machado
Roteiro: Marcelo Machado, Di Moretti
Com: Caetano Veloso, Gilberto Gil, Rita Lee, Tom Zé, Hélio Oiticica, etc.
13h40. Olho a programação do Festival de Nyon pela Internet. Assisto a uma entrevista com um diretor brasileiro – Marcelo Machado – sobre seu documentário sobre o Tropicalismo. Ummmm, parece bem interessante! Pena que começa às 14h. Será que dá tempo? Começo rapidamente a fazer os cálculos: 10 minutos daqui até lá, mais 5 minutos pra estacionar, mais outros 5 pra comprar o ingresso e achar um lugar… Bem apertado, mas dentro de “condições normais de temperatura e pressão”, acho que dá. Agarro a bolsa, que está bem ao meu lado, desço a escada correndo, tranco a casa, entro no carro e voo, deixando para trás o computador aberto na página do Festival.
Chego a Nyon rapidinho, sem tráfego. Depois de dar umas duas rodadas no estacionamento, encontro enfim uma vaga, atravesso correndo a rua – na faixa, é claro, afinal, estou na Suíça – entro no prédio, localizo o guichê pra comprar o ingresso, pergunto esbaforidametne à moça do caixa se ainda dá tempo. Ela me responde “Oui, madame”; o filme não havia nem começado. Ufa! Tento acalmar minha respiração ofegante, pego meu bilhete, caminho apressadamente rumo à sala, ignorando pipocas, balas ou refrigerantes. Pego um lugar logo na segunda fileira e, antes mesmo de conseguir me desvencilhar do casaco, as luzes se apagam. Parece que o filme esperava por mim!
Ainda com o coração batendo rápido dentro do meu peito, vejo a tela preta ganhar as cores verde e amarela. Ancine, Petrobrás, Bossa Nova Films, etc. Todos nomes tão familiares mas também tão distantes. Transporto-me para o Brasil. Estou aqui e estou lá. Estou lá e estou aqui. O Brasil se abre a minha frente, me invade, me contamina. O espetáculo vai começar!
Mais do que um documentário, Tropicália é uma experiência sensorial, uma verdadeira viagem no tempo conduzida e embalada pelas vozes de Gilberto Gil, Caetano Veloso, Rita Lee, Gal Costa, Nara Leão, Tom Zé e tantos outros. Um filme que ultrapassa o limite do documentário para atingir o patamar de quase-poesia, tocando nossas almas lá no fundo.
Escrito com uma linguagem dinâmica de clip, misturando grafismos a imagens de arquivos, trechos de filmes (como os do Glauber Rocha, por exemplo) e de entrevistas que exploram o campo e o contra-campo, Tropicália é fruto de um trabalho de pesquisa riquíssimo. Algumas imagens que compõem o filme são inéditas até mesmo para os artistas que fizeram parte do próprio Tropicalismo, afirma uma de suas produtoras, Paula Concenza.
O filme de Marcelo Machado é, mais do que tudo, um reencontro.
Para os brasileiros “da velha guarda”, um reencontro nostálgico com um momento tão marcante e importante da música e da política brasileiras – a política sendo o pano de fundo para a grande protagonista “música”.
Para mim – e para tantos outros que estão longe – Tropicália é um reencontro com meu país, com minha cultura, com minha gente.
Para os mais jovens, talvez o mais certo fosse falar de um primeiro encontro, de uma apresentação, de um aprendizado feito por meio do encantamento!
Deixo-me então levar pela música alta e abundante no filme. Redescubro os Mutantes, com uma Rita Lee tão novinha, com seus cabelos longos e seu estilo tão original. Fico encantada com tamanha ousadia e talento daquela banda! E vou assim me encantando e me emocionando a cada nova música, a cada nova entrevista, até não conseguir mais conter as lágrimas, que começam a deslizar copiosamente pelo meu rosto, ao ritmo dolorido de Asa Branca, na voz e no violão de um exilado Caetano Veloso. Absolutamente sublime!
O filme então termina e a plateia aplaude. Meus olhos ainda marejados sorriem timidamente, como se fossem os responsáveis pela beleza daquela obra. Quase me levanto para agradecer! Sinto então uma vontade danada de gritar: Esse aí é o meu país! É minha música! É minha terra! É minha gente! Mas as luzes se acendem e me fazem colocar o pé de volta na realidade, guardando então dentro do meu peito todo o orgulho que carrego de ter nascido em um país com tantas cores e sons! Viva o Tropicalismo! Viva Marcelo Machado! Viva o talento brasileiro!
[…] uma coisa que me emociona! (Veja a crítica do filme Tropicália (2012), do dia 6 de maio de 2012-http://www.lilialustosa.com/2012/05/06/tropicalia-2012/) Me baixa um certo sentimento de “embaixadora” do meu país, que me faz sentir responsável por […]
» A Vida Invisível de Eurídice Gusmão (2019) Meu Olhar said this on março 20, 2020 at 20:14 |